Pontes de Miranda, em “O Problema Fundamental do Conhecimento”, nos leva a refletir sobre os limites e possibilidades da razão frente à complexidade do mundo. Ele questiona se podemos realmente conhecer algo de forma objetiva, ou se o que chamamos de “conhecimento” é uma construção moldada por nossas perspectivas, linguagem e cultura. Sua obra cruza direito, filosofia e teoria do conhecimento, desafiando não apenas o que sabemos, mas como entendemos o ato de conhecer.
A provocação central é: até que ponto nossas certezas são, de fato, verdades? Pontes sugere que o conhecimento é frágil e transitório, sempre sujeito a revisões e dúvidas. O que vemos como “verdade” pode ser apenas uma tentativa de representar o mundo com as categorias que criamos. O direito, com sua linguagem formal e pretensão de objetividade, busca estabilizar o fluxo constante de interpretações, criando regras para enfrentar a incerteza.
Contudo, há um paradoxo: se o conhecimento é sempre parcial e influenciado pelo ponto de vista, como fundamentar nossas decisões? No direito, isso é ainda mais relevante, pois as leis, apesar de visarem à ordem, são resultados de interpretações carregadas de subjetividade. Pontes nos desafia a aceitar que a busca pela justiça é um processo dinâmico, onde o ideal de imparcialidade precisa conviver com a consciência de que o “saber” nunca é absoluto.
Essa perspectiva sugere que o jurista se assemelha a um artista, que transforma a realidade com sua subjetividade. O direito, então, não seria um sistema fechado, mas um campo aberto à interpretação contínua, onde a verdade é mais um caminho do que um destino final.
O problema do conhecimento em Pontes de Miranda nos traz tanto respostas quanto perguntas. Ele nos força a refletir sobre o que significa saber, julgar e decidir em um mundo onde os absolutos se desfazem, e a incerteza se torna uma força que impulsiona o progresso.
Livro: O Problema Fundamental do Conhecimento
Autor: Pontes de Miranda
Editora: Bookseller
Ano: 2005
Fotografia: 1º Congresso de Direito Internacional da @oabaparecidago por Rogério Porto.
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